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Como as taxas do Trump vão afetar a moda?

Difícil pensar em assunto menos animador no momento do que tarifas, política internacional e cadeia de suprimentos, dá logo vontade de fechar a aba e ignorar o assunto. Mas, dessa vez, vale a pena prestar atenção: o novo pacote de taxas do Trump, presidente dos EUA, promete afetar a moda em todos os níveis, do fast fashion ao mercado de luxo, passando pelas pequenas marcas independentes. E, sim, vai acabar chegando até você.

No discurso mais protecionista desde o início do século, Trump anunciou uma tarifa básica de 10% para todos os produtos importados, com aumentos muito mais altos para países com os quais os EUA têm déficit comercial: ou seja, os principais polos de produção da moda global. China, Vietnã, Camboja, India e até a União Europeia entraram na mira. Com essa decisão, roupas vindas do Vietnã passariam a pagar 46% para entrar no mercado americano. O zíper da sua jaqueta, os botões da sua camisa, até a etiqueta, tudo isso vem majoritariamente do Sudeste Asiático. Resultado? Marcas americanas já falam em cortes de margem, aumento de preços e até inviabilização de certas coleções.

A medida pegou o setor de surpresa e foi imediatamente criticada por associações da indústria. Marcas de luxo, que já vinham tentando se recuperar dos últimos anos, muitas ainda sofrendo consequências da pandemia, agora encaram a possibilidade de mais um ano no vermelho. Já para os pequenos — designers independentes, marcas locais que dependem de importações pontuais — o impacto pode ser ainda mais brutal.

Num cenário assim, pautas consideradas “extras” correm o risco de serem deixadas de lado. Sustentabilidade, inovação circular e rastreabilidade (temas que tantas marcas passaram anos construindo) podem sair do foco quando o que está em jogo é simplesmente manter o negócio vivo. Bem mais difícil manter iniciativas eco se cada botão do blazer passou a custar o triplo. E marcas menores, que já operam no limite, devem ser as primeiras a sentir a pressão de abrir mão dessas práticas em nome da sobrevivência.

O que a gente tem a ver com isso? Tudo. As decisões políticas e comerciais entre Estados Unidos, China e Europa podem parecer distantes do nosso dia a dia, mas elas mudam o preço das coisas, o ritmo da indústria e até o tipo de produto que chega até nós, tanto nas vitrines das multimarcas brasileiras ou nas compras internacionais que fazemos online.

Por outro lado, o cenário também abre algumas brechas interessantes. Para o Brasil, que há anos sofre para ocupar uma posição relevante na cadeia global da moda, o tarifão pode representar uma chance. Nossa produção local é abundante em matéria-prima e talento manual. A seda brasileira já é usada pela Hermès, o nosso algodão é respeitado internacionalmente, e o savoir-faire artesanal dos bordados, tramas e couros locais é inegável. Em um cenário de encarecimento das importações asiáticas, a produção brasileira pode se tornar mais competitiva e atraente para marcas internacionais. Mas isso depende, claro, de investimento, estrutura e interesse político, três coisas que nem sempre caminham juntas por aqui.

Por enquanto, a história está longe de acabar. Os detalhes mudam a cada pronunciamento (Trump já voltou atrás em parte da medida, mantendo os 10% para todos os países, com exceção da China, que segue com uma tarifa de 145%, e que agora respondeu na mesma moeda). Mas uma coisa é certa: o impacto será sentido. E não só nos bastidores da indústria.